Nos últimos 10 anos da minha vida planejei passar o dia de hoje vislumbrando um panorama arrasador em plena Praça do Sol nas ruínas sagradas de Machu Picchu. Não aconteceu.
Não via a hora de fazer 40 anos. Planejar um acontecimento áureo num dia que simboliza minha grande satisfação pelo envelhecimento, fazia todo o sentido. Me sinto cada dia mais feliz com minhas realizações diárias, minhas conquistas acumuladas pelo caminho, meu bem estar comigo mesma. Aprendi a amar a vida com a auto-confiança da idade, não era tão feliz assim quando era mais jovem.
Tempos atrás decidi que quero ter tudo. Quero ganhar dinheiro e quero ser livre e quero ser livre e ganhar dinheiro. Nada menos do que isso. Alguém poderia me dizer porque não? Claro que sei que na grande maioria das vezes essas duas coisas são mutuamente exclusivas. Mas infelizmente, por mais que eu tente, não consigo me satisfazer só com uma delas. Então decidi que vou conseguir tudo. Continuo aguardando alguém me dizer porque não.
Já tive dinheiro suficiente entrando na minha conta bancária e estava longe de ser feliz. Então comecei o processo inverso e agora chego aos 40 bem mais perto da felicidade do que do dinheiro. Não posso ser idealista aqui e dizer “Felizmente!”… Não ainda.
Esta não é a primeira vez que sacrifico uma viagem por causa da minha carreira profissional e nem vai ser a última oportunidade de sacrificar a carreira por causa de uma viagem. Adoro. Ao invés de Machu Picchu, estou em San Francisco, numa aceleradora de startups do Silicon Valley, totalmente voltada para mulheres. Um grande sonho profissional. Um raríssimo programa que muito eficientemente começa a mudar as estatísticas globais das oportunidades para mulheres empreendedoras, mulheres em tecnologia e mulheres no alto escalão profissional. Meu sonho de consumo. Tudo o que o meu “transtorno obsessivo feminista” sempre quiz. Não tinha como deixar de agarrar essa oportunidade com as duas mãos.
Mas logicamente que isto significa vários e vários sacrifícios financeiros, abandonar o salário fixo e garantido todo o mês para ficar passando perrengue constantemente, e por ideais que têm uma chance enorme de não darem em nada. Começar tudo de novo mais uma vez na minha vida. De novo e de novo, mesmo depois de 4 décadas.
Demorou mais de 20 anos para que eu conseguisse me libertar das amarras do emprego fixo, do ponto das 8 as 18, do capitalismo massacrante. Hoje me considero uma pessoa semi-libertada, quase livre. Ainda não consigo me sustentar com meus próprios sonhos e só posso trabalhar com o que gosto nas horas vagas, pois ainda preciso me “prostituir” em projetos completamente desmotivantes, retrógrados, irracionais, irrelevantes, estapafúrdios, autoritários, estúpidos, que me sustentam financeiramente mas sem utilidade nenhuma para mim, para a sociedade, para as gerações futuras ou para o mundo todo. Pelo menos hoje não tenho mais chefe nem horário fixo, trabalho em casa, sou dona do meu próprio salário e posso viver onde eu quiser. Demorou décadas pra chegar até aqui mas já estou quase lá. Muito mais perto de poder dizer que trabalho por prazer e que tenho muito prazer em fazer o que me dá dinheiro.
Será que ainda tem alguém ai pra me dizer porque não??
Meus 40 anos (23’s de dezembros):
Lindo, Alline! Poooode, sim, associar dinheiro e prazer. E você conseguirá tudo o que quer na sua vida! Saudades! 😘
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É isso aí garota. Apesar dos 40, sempre será minha garota. Parabéns. Amo vc.
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